Fui escritora a vida inteira: enquanto escritora, ainda mesmo em criança e muito antes de o que escrevia começar a ser publicado, desenvolvi a percepção de que os significados residem nos ritmos das palavras, das frases e dos parágrafos, técnica de resguardar atrás de um verniz cada vez mais impenetrável qualquer pensamento ou convicção pessoais. O modo como escrevo é quem eu sou ou em quem me tornei; porém, neste caso, quisera ter, em vez de palavras e seus ritmos, uma sala de montagem, equipada com um Avid, um sistema digital de edição, no qual pudesse carregar numa tecla e neutralizar a sequência temporal, mostrando-vos em simultâneo todas as imagens das recordações que agora me chegam, deixando-vos escolher as cenas, as expressões marginalmente diferentes, as leituras variantes dos mesmos diálogos. Neste caso, é-me necessário que tudo aquilo que penso ou em que acredito possa ser penetrável, quanto mais não seja, a mim mesma.
( Joan Didion )
[ The Year of Magical Thinking ]
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